quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Separação da equipe

Depois de duas semanas compartilhando o quarto, o banheiro e as fontes, a equipe precisou se separar. Bia e Domi seguem a apuração em Ciudad del Este para o especial multimídia e Camila continua em Asunción entrevistando novas fontes para sua grande reportagem em texto.

Boa sorte para nós! Acompanhe os próximos posts.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Um país movido a tereré

Impossível falar em Paraguai e não falar em tereré. Assim como é impossível visitar o país e não tomá-lo. A bebida gelada, feita com a infusão da erva-mate (nome científico: Ilex Paraguariensis), está por todos os lados. No meio das manifestações, nas mesas dos ministérios, entre os policiais nas ruas.

O kit básico da bebida é composto tradicionalmente pela guampa, o recipiente usado para servir o tereré; a bomba, utilizada para filtrar a infusão; e a garrafa térmica, para manter a água gelada. Não se surpreenda se, quando estiver andando de ônibus, o motorista encostar perto de algum bar no meio do caminho e pedir para repor a água de sua garrafa.

O kit e as ervas podem ser comprados em lojas ou de vendedores ambulantes. A decoração segue o estilo do freguês. São diversos modelos, tamanhos e cores, que variam de brasões de times de futebol a nomes bordados. É comum encontrar nas calçadas pessoas, chamadas yuyeras, vendendo ervas frescas.

Passeando pelas cidades à noite, especialmente no interior, você vai encontrar diversas rodas de familiares e amigos sentados do lado de fora das casas - assistindo televisão (pela janela) ou apenas conversando - passando a guampa de mão em mão.

Se você estiver no Paraguai, provavelmente será convidado para uma roda de tereré. Mas preste atenção, a roda é praticamente um ritual e algumas regras devem ser consideradas, principalmente se você quiser ser convidado para a próxima:

1 - Não "cuspa" o tereré;
2 - Não mexa na bomba;
3 - Nunca coloque açúcar no tereré;
4 - Não diga que o tereré é anti-higiênico;
5 - Não deixe um tereré pela metade;
6 - Não se envergonhe do "ronco" no fim do tereré;
7 - Jamais chame uma guampa de cuia;
8 - Não altere a ordem em que o tereré é servido;
9 - Não demore com a guampa na mão.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Camponeses protestam contra condições de assentamentos

Nesta quarta-feira, dia 18, fomos até a cidade de San Estanislao, ou Santani, como é amplamente conhecida, acompanhar uma mobilização de trabalhadores rurais de 26 assentamentos do departamento de San Pedro, no centro do país.

O protesto foi organizado pela Federación Nacional Campesina (FNC) – principal organização social de luta pela terra no Paraguai – para exigir do governo a continuidade das obras de melhoria dos assentamentos. Segundo Felipe Aveiro, secretário distrital da FNC de San Pedro, as condições dos assentamentos são precárias. “Queremos política de assistência imediata contra a seca e a praga, água potável, estrada e saúde”, afirmou.

Reunidos na praça central de Santani, os participantes do protesto organizaram debates sobre a reforma agrária e, na manhã de quinta feira, uma paseata pelo centro da cidade até o prédio da Administración Nacional de Electricidad (Ande). “Reforma agrária urgente e necessária”, gritavam os manifestantes balançando faixas e pedaços de madeira característicos dos sem-terra paraguaios. Mulheres, crianças e bebês de colo acompanharam toda a marcha que durou cerca de uma hora.

O Instituto Nacional de Desarrollo Rural y de la Tierra (Indert) do departamento de San Pedro afirma que as obras por melhorias nos assentamentos começaram, mas não puderam continuar por falta de dinheiro. Segundo o Indert, o Ministério da Fazenda não libera a verba prometida pela Coordinadora Ejecutiva para la Reforma Agraria (CEPRA) em janeiro deste ano.

A CEPRA foi criada em novembro de 2008 pelo governo Lugo. Segundo o decreto presidencial, o órgão visa "coordenar e promover o desenvolvimento econômico, social, político e cultural", além de contribuir na administração de assentamentos rurais e "obter a reforma agrária integral".Entre os 16 organismos públicos que fazem parte da comissão estão o Indert, a Ande, o Ministério da Educação, da Agricultura, da Indústria e da Fazenda.

No dia 12 de janeiro de 2009, os principais representantes da CEPRA se reuniram em um assentamento de San Pedro para dar início ao Plano Operativo Departamental, que prevê o investimento de US$ 11 milhões para reforma agrária. O objetivo é assegurar a sustentabilidade econômica de 120 mil trabalhadores rurais de San Pedro através da regulamentação da terras, em qualidade e quantidade suficiente para o autoconsumo e rentabilidade familiar. O que incluiria apoio para a produção, infra-estrutura, escolas, construção de possos artesanais e abertura de estradas.

Segundo o diretor do Indert nacional, Alberto Alderete, “a CEPRA tem recursos para a Reforma, só que [a reforma] requer procedimentos administrativos como concursos e licitações, e isso leva tempo. Muitas vezes não é compreensível para os camponeses, por que suas necessidades não são para amanhã, são para ontem”. Alderete afirmou que o dinheiro disponível para comprar terras, sem contar os custos operacionais do prórpio Indert, é de Gs$140 bilhões, ou R$ 70 bilhões. E disse ainda que os resultados só poderão ser medidos daqui a seis meses.

sábado, 21 de fevereiro de 2009

Mais sobre a coletiva

Durante a coletiva de imprensa do dia 17, o presidente Fernando Lugo foi questionado sobre o tráfico de influência nas instituições públicas paraguaias.

Confira a resposta.

Esclarecimento

Retiramos um post do blog porque depois de alguns comentários percebemos que passamos uma impressão completamente errada. A intenção era apenas relatar o desgaste de um dia em que fazia 39 graus.

Nos expressamos mal. Pedimos desculpas às pessoas que se sentiram ofendidas. O Paraguai é um país encantador e muito hospitaleiro.

Continuem acompanhando o blog e opinando.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Coletiva de imprensa com o presidente



Todas as terças-feiras, às 11h30, o presidente Fernando Lugo recebe os jornalistas dos principais veículos paraguaios no Palácio do Governo para discutir os assuntos da semana.

A coletiva é realizada em um salão no terceiro andar do Palácio. Há cerca de 20 cadeiras dispostas em duas colunas e um microfone no meio da sala, para que os repórteres façam as perguntas. Lugo entrou acompanhado de oficiais militares e alguns ministros. A rueda de prensa, como eles chamam, durou cerca de 40 minutos.

Um breve dicurso do presidente dá início ao encontro. Na manhã de hoje, Lugo falou sobre o Mercosul e alguns problemas do país, e anunciou ajuda ao combate à dengue na Bolívia. Em seguida, começam as perguntas. Os repórteres de política enviam as questões ao departamento de imprensa antes de cada coletiva. Há um sorteio prévio e só as sorteadas são respondidas em uma ordem pré-selecionada.

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Asunción








Muito comum em Asunción






Palácio del Gobierno



Baía de Asunción

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Chipas, frutas e café da manhã

O Paraguai é um país de seis milhões de habiantes sem saída par

O Paraguai é um país de seis milhões de habitantes sem saída para o mar, onde mais de um milhão de pessoas vivem em pobreza extrema, com renda inferior a US$ 1 por dia. Em um estudo recente das Nações Unidas para o Desenvolvimento, o país foi classificado como sétimo, entre 139 países, com maior desigualdade social: cerca de 500 famílias possuem 90% das terras. A mecanização da produção agrícola e a pobreza no campo incidiu na diminuição da população rural nos últimos vinte anos, que passou de 67% para 30%.

A migração interna significou um deslocamento da pobreza para as cidades, principalmente para a capital. Dados oficiais afirmam que o desemprego atinge cerca de 10% da população economicamente ativa, mas aproximadamente um quarto destas pessoas tem empregos informais.

Percorrendo as ruas de Assunção fica fácil verificar esses dados. As calçadas, muito mal cuidadas, são cheia de vendedores ambulantes de balas, refrigerante, bolsas falsificadas, óculos, relógios, artesanato indígena.

Há também diversos vendedores de chipa, os tradicionais bolinhos paraguaios de milho. E ambulantes mais jovens que percorrem os ônibus com cestas de frutas, como pêras, pêssego e ameixas.

A economia informal não se limita só às nossas impressões. De acordo com dados do Banco Central do Paraguai, a balança comercial anual do país segue desfavorável consecutivamente desde 1990. Em 2008, as importações superaram as exportações em US$ 946 milhões. A indústria é incipiente e fraca. Os produtos importados lotam as prateleiras dos supermercados. A mesa do café da manhã, por exemplo, é bem brasileira. Achocolatado, café e margarina, todos made in Brasil.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Abertura dos arquivos de Itaipu

Ontem estivemos no evento de abertura dos arquivos da usina binacional de Itaipu da época da ditadura. Fomos a convite de Martín Almada, ganhador do Prêmio Nobel Alternativo da Paz e descobridor dos “Arquivos do Terror”.

O evento marca a nova gestão da usina, que de acordo com seu novo diretor, Carlos Mateo Balmelli, quer ser a “instituição pública mais sensível aos reclames paraguaios por transparência”.

A administração paraguaia da usina é marcada por um histórico de corrupção, principalmente durante a ditadura. O que torna importante tornar esses arquivos públicos.

Confira um vídeo do diretor paraguaio de Itaipu discursando sobre as razões de se começar um processo de transparência na instituição (em espanhol).









Gravação da entrevista com o diretor paraguaio da Itaipu Binacional, Carlos Mateo Balmelli. Conversamos sobre desenvolvimento social a partir da eletrifcação do país e sobre a expectativa do povo paraguaio com relação à Itaipu.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Visita ao Clarín

Como comentado no post anterior, antecipei a viagem para dar uma passadinha em Buenos Aires. O objetivo era conhecer o processo de produção dos especiais multimidias do Clarín. O jornal portenho foi escolhido como ponto de partida da pesquisa porque, além de ser referência nessa área de jornalismo multimídia, se destaca pela inovação e qualidade gráfica dos materiais.

Depois de conversar com a equipe de produção - composta por dois designers multimídias, dois animadores em 3D, um engenheiro de áudio e um coordenador, Javier Elliot - entrevistei um dos principais repórteres, Gustavo Sierra. O que encontrei foi uma equipe de altíssima qualidade, mas que ainda afirma enfrentar resistência dentro do modelo de redação tradicional. Elliot comenta que depois de muitos pedidos conseguiram mudar a posição do link dos especiais para uma de mais destaque na home page do jornal. "Mas ainda não é suficiente", afirma.

O Clarín começou a produzir especiais multimídias em 2002, na tentativa de "contar histórias de maneira diferente aproveitando a convergência [de mídias] proporcionada pela Internet", comenta Sierra. Já no primeiro especial - "Piqueteros, la cara oculta de un fenómeno" - mesmo ainda sem a qualidade gráfica conquistada anos depois a partir da formação da atual equipe especializada em tecnologia gráfica, o Clarín conquistou o prêmio "Nuevo Periodismo 2002", dado pela "Fundación Nuevo Periodismo Iberoamericano", fundada por Gabriel García Márquez. A partir de 2007, a qualidade técnica de imagem e som deu um grande salto, permitindo a criação de especiais mais elaborados, inclusive com músicas próprias.

A idéia das pautas, na maioria das vezes, vem dos repórteres, que, a partir da apuração e edição dos dados coletados, entregam o material a equipe de Javier. Essa equipe cria templates, músicas e efeitos exclusivos para cada reportagem. Os especiais são produzidos em no mínimo um mês. Depois dos argentinos, os brasileiros são os principais leitores dos especiais. A reportagem "Brasil Petrolero", por exemplo, dois meses após ser publicada, quando já estava fora da home page, teve cerca de 200 mil acessos em um mês. A estimativa é de que entre 5% e 10%, dos cerca de 800 mil leitores diarios do Clarin.com, acessem os especiais multimídias.

Algumas empresas de comunicação no Brasil - como o Estadao, o Globo.com - começaram a investir em seções multimídias com o barateamento da banda larga no país. Entretanto, poucos apresentam equipes especializadas. De acordo com o artigo "A reportagem multimídia no Clarín.com e a pesquisa por uma linguagem digital", ainda falta também no Brasil o desenvolvimento de pesquisas por linguagens narrativas multimídia como a desenvolvida pelo Clarín. Esse foi um dos fatores que influenciou na decisão de optarmos pelo formato multimídia no nosso trabalho.

Gustavo Sierra aposta nesse tipo de reportagem como o futuro do jornalismo. No entanto, de acordo com Javier, o que ainda falta para que os especiais se consolidem é a evolução de tecnologias que permitam maior participação dos leitores.

Domitila Becker

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Quase no Paraguai

Quando dizíamos a quem perguntasse porque escolhemos o Paraguai como tema do trabalho de conclusão do curso de Jornalismo, a reação de quem nos ouvia era quase sempre a mesma. "Vão virar sacoleiras?" ou "me traz uns presentes importados?" eram brincadeiras frequentes e inevitáveis, mesmo depois de uma explicação sobre nossos propósitos.

Acontece que tanto nós como quem ouvia nossos planos não conhecemos muito bem um dos vizinhos mais próximos do Brasil, o Paraguai. Na nossa viagem realizaremos o trabalho da reportagem - ainda que sejamos meras aspirantes a repórteres - nos propondo a observar costumes e comportamentos, ler sobre a história e a atualidade e conversar com especialistas, professores e outros cidadãos, para poder reportar o que vivenciamos e apresentar o Paraguai aos brasileiros.

As passagens estão compradas e as primeiras entrevistas marcadas. Sairemos de Florianópolis na quinta-feira, dia 5, em direção a Asunción. A proposta do roteiro de viagem é começar a apuração na capital, seguir para o departamento de San Pedro e depois para Ciudad del Este. Porém, dividiremos o material em uma reportagem multimídia (a ser feita por Beatriz e Domitila) e uma reportagem em texto ( produzida pela Camila).

Uma de nós, a Domitila, está em Buenos Aires, e nos encontraremos com ela em Asunción na sexta-feira. A chica antecipou seu trabalho para realizar um benchmarking no Clarín, observando de perto o processo de produção dos especiais multimídia do jornal portenho.

O blog é o canal para os leitores acompanharem nosso trabalho, participar das discussões sobre temas relacionados a jornalismo, América Latina e Paraguai e também para palpitar.

Sintam-se à vontade e boa viagem pra nós.

¡Saludos desde Brasil!